sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A importância do conhecimento sobre nossas origens - por Lia Miranda Pinheiro Melges

Julho 2007

Feliz aquele que se recorda com prazer dos seus antepassados; que conversa com estranhos sobre eles, suas ações e sua grandeza e que sente uma satisfação secreta por se ver como o último elo de uma bela corrente. Goethe

PALAVRAS INICIAIS

Queridos filhos, irmãos, cunhados, sobrinhos e primos.

Olá!

Há algum tempo tenho recebido sugestões no sentido de escrever alguma coisa sobre a história da família. As gerações anteriores estão indo embora e algumas pessoas estão se sentindo sem raízes. A idéia não é ficar revivendo épocas passadas, suas glórias ou dificuldades, mas encontrar pontos de referência para entender melhor quem somos, tanto do ponto de vista individual como familiar e, porque não dizer, social, porque não somos diferentes de tantas outras famílias por aí. O brasileiro é resultado de uma mistura de nacionalidades e raças que nos confere uma riqueza única, que merece ser preservada. Nesta época de transição que estamos vivendo, precisamos lutar contra a massificação que nos ameaça a todos.
Não há como escrever uma história linear, com datas e informações precisas. Tudo que posso conseguir são retalhos de fatos que precisam ser arranjados da melhor forma possível, como um quebra-cabeça. Se por um lado sabemos de algumas coisas, sobre outras só podemos fazer suposições, com base em outras fontes de informação.
Em uma discussão de grupo durante um curso que fiz, falava-se da importância do culto aos antepassados, tão freqüente nas culturas orientais. Questionou-se a razão disso e a coordenadora, descendente de japoneses, esclareceu:
“Não se trata apenas de honrar os antepassados, é algo mais complexo. Trata-se de reconciliar-se com eles e assim ficar em paz com as próprias raízes. Agradecer pela vida que nos veio através deles. Reconhecer seus esforços e suas lutas. Acolher e incorporar os bons exemplos. E, acima de tudo, compreender e perdoar seus erros, sem jamais os julgar ou condenar. O passado não existe mais, não podemos mudá-lo, mas de alguma forma ele permanece dentro de nós. O estudo do passado pode ajudar a compreender as sombras do presente”.
Cada vez mais se torna evidente a necessidade de reconhecer e resgatar nossos débitos, individuais e coletivos. Devemos ficar alertas quanto aos erros cometidos e tentar saná-los em nosso íntimo, essa é a meta. É impossível eliminar o passado, mas quando simplesmente varremos as más lembranças de nossas mentes, elas não são destruídas: simplesmente se alojam no inconsciente, pessoal ou coletivo, e ficam lá, aflorando de vez em quando, interferindo em nossos relacionamentos. Assim certos traumas podem ser repassados aos novos elementos de uma família durante gerações. Perpetuamos coisas como a dificuldade de diálogo entre casais, a falta de comunicação entre pais e filhos, a necessidade de manter as aparências não importando o que a pessoa esteja sentindo, ou de ocultar os próprios pensamentos como se fossem segredos de estado, a irracional hostilidade diante de acontecimentos imprevistos ou de pessoas estranhas ou diferentes de nós, a possessividade com relação ao cônjuge e aos filhos, a prepotência de alguns dos mais velhos, a insegurança, a obstinação que chega às raias da teimosia. Ou seja, precisamos repensar nossos valores e condutas. Por exemplo: determinação e perseverança são coisas diferentes de obstinação e teimosia.
As ciências e as religiões reconhecem o quanto um passado mal resolvido pode perturbar nosso presente. Daí a necessidade de renovação.
Podemos começar por ter mais indulgência para com nós mesmos, ter uma atitude mais benevolente para com nossas próprias imperfeições e deslizes, ser menos dogmáticos e perfeccionistas. Atenção: tolerância não é sinônimo de conivência. Devemos sempre nos esforçar para sermos melhores a cada dia, mas podemos fazer isso sem a ansiedade do autoflagelo.
Depois podemos aprender a estender essa atitude aos outros, começando por nossa família no presente e estendendo esse sentimento a nossos antepassados.
Fomos ensinados a perdoar com esquecimento de todo o mal. Atenção: esquecer o mal não significa esquecer o fato. Olvidar tudo seria simples alienação. Devemos esquecer o ódio, a vergonha, a culpa, o sofrimento, a revolta, o desejo de vingança. Mas temos a obrigação de ficar vigilantes para que comportamentos abusivos não se repitam, em nossa família atual ou em nossos descendentes. Nem como algozes, nem como vítimas.
A verdade é que podemos aprender a ser co-criadores de nós mesmos e que não importa tanto a bagagem anterior, seja biológica ou cultural, seja de vidas passadas. O que realmente tem valor é o que fazemos hoje, agora, com o legado que recebemos quando chegamos a este lindo planetinha azul.

(Sobres as RAÍZES desta família, através dos ÁRABES e dos ALEMÃES - textos da Lia, aguardem pela publicação, os textos são grandes e não couberam aqui).

Um comentário:

Unknown disse...

Que lindo seu blog, lindo e significativo. Dá até vontade de chorar quando vemos uma história assim com tanta gente envolvida.
Vc merece os parabéns pela sua iniciativa. Fico a imaginar como não estará a emoção dos familiares ao reviver momentos vividos.
Parabéns!!!!